Já faz algum tempo que tem sido um ponto de discórdia entre investigadores, profissionais de saúde e pacientes, se os tratamentos feitos por medicamentos de grandes marcas funcionam melhor que os genéricos.
Instituições de cuidados primários prescrevem genéricos sempre que possível porque observam que fazem o mesmo trabalho ao mesmo tempo que são mais baratos.
No entanto, os pacientes podem ser céticos sobre passar a ou optar por tomar um genérico em vez de um medicamento de marca. Podem vir a relatar uma maior incidência de efeitos colaterais, ou podem vir a
concluir que um medicamento é menos eficaz que o outro. Mesmo quando compram medicamentos sem receita médica, como comprimidos para a dor de cabeça ou herpes labial, muitos podem decidir por gastar
um pouco mais e comprar o produto de marca que reconhecem em vez de arriscar em algo que não conhecem.
Mas esta forma de pensar tem algum fundamento na composição dos próprios medicamentos em si?
Pensamos em olhar para este assunto mais detalhadamente, analisando dados da nossa base de dados de experiências com medicamentos e examinando as diferenças em eficácia e efeitos colaterais indicados. Também consideramos interessante entrar em contato com dois representantes da farmácia online Treated.com, de modo a obter as opiniões de especialistas sobre este assunto.
voltar para a listaNós analisámos as experiências disponíveis na nossa plataforma Europeia para seis medicamentos de marca, usados para propósitos bastante diferentes e as suas respectivas versões genéricas. Eles foram:
Estas comparações específicas parecem dar força à noção de que existe uma diferença na forma como os medicamentos de marca e genéricos funcionam.
Dos quatro tratamentos em que uma comparação razoável pôde ser feita, apenas o medicamento para enxaqueca mostrou resultados que se aproximaram de um nível de equivalência. Em particular, o tratamento genérico para o colesterol elevado, pareceu apresentar um registo muito negativo tendo em conta o medicamento de marca.
Apresentámos os resultados ao Dr. Wayne Osborne do site Treated.com para obter sua análise.
"Tenho que admitir que achei as variações entre as experiências surpreendentes." diz-nos o Dr Osborne. "Uma observação que gostaria de fazer é que os dois tratamentos para a enxaqueca, que são normalmente usados a pedido, também foram os tratamentos que mostraram a menor discrepância. Os tratamentos de longo prazo pareceram ser aqueles que apresentaram as experiências com mais conflitos."
Analisando os resultados mais profundamente, o Dr. Osborne identificou uma possível teoria que poderia justificar essa variação:
"Será que isto sugere que os pacientes têm mais probabilidade de ter uma experiência negativa com um medicamento genérico quando o usam a longo prazo? Ou será que os pacientes que usam medicamentos a longo prazo têm mais conhecimento sobre estes e assim sendo são mais céticos sobre os genéricos?"
No entanto, Pauline Bus PhD, que liderou a pesquisa para MeaMedica, é da opinião que os pacientes tendem a ser mais imparciais no momento de fornecer feedback.
"A nossa experiência diz-nos que as pessoas são perfeitamente capazes de manter essa parte fora da equação. Eles só querem partilhar o que sentiram, não apenas porque querem ser negativos sobre seus medicamentos (genéricos)."
Ela prossegue, acrescentando que uma pesquisa realizada pelo Lareb (Centro de efeitos colaterais da Holanda), mostrou que a indicação de efeitos colaterais entre médicos e pacientes tende a diferir apenas na terminologia usada. A substância dessa indicação é essencialmente a mesma.
"Portanto, podemos dizer que os pacientes sabem muito bem avaliar os seus medicamentos e os possíveis efeitos colaterais."
De uma forma simples, quando um fabricante desenvolve um medicamento pela primeira vez, mantém privado o direito de produção e comercialização desse medicamento durante um periodo de tempo limitado. Quando este período termina, outros fabricantes ficam então livres para produzir também esse tratamento, mas têm que o fazer sob um nome diferente.
Viagra, um comprimido de fama mundial para a disfunção erétil, é talvez um bom caso para usar como exemplo.
A Pfizer lançou este medicamento no mercado em 1998 pela primeira vez. A patente sobre o produto durou 15 anos. Consequentemente, em 2013, outros fabricantes de medicamentos ficaram elegíveis para produzir as suas próprias versões.
Devido ao facto da Pfizer possuir a patente do nome Viagra indefinidamente, as outras empresas são obrigadas a vender as suas versões sob um nome diferente (neste caso, o nome da substância activa, Sildenafil).
As dosagens do medicamento genérico serão tipicamente as mesmas (contendo a mesma quantidade da substância ativa), no entanto podem existir diferenças nos excipientes usados, tais como o revestimento do comprimido.
Assim, em teoria, não deveria existir nenhuma diferença (ou no máximo, diferenças negligenciáveis) em como o genérico funciona quando comparado com o original.
Antes de serem lançados, os medicamentos genéricos são submetidos a testes exaustivos para garantir que produzem efeitos comparáveis aos do medicamento original. Mas é a nossa interpretação do termo "comparável" que traz diferenças potenciais para análise.
"Existe imensa liberdade nos processos de produção." explica a investigadora Pauline Bus, MeaMedica. "Enquanto a bioequivalência estiver dentro de um certo intervalo durante um periodo de tempo específico, o medicamento é considerado como sendo o mesmo. No entanto os valores fora deste intervalo já podem ter uma grande influência na forma como alguém reage ao medicamento."
Afirma ainda que medicamentos de marca, em virtude de estarem disponíveis mais tempo, tiveram mais tempo para evoluir:
"Outro fator que pode ter alguma influência é que a versão de marca teve bastante investigação para otimizar o medicamento e adicionar os melhores excipientes, tais como revestimento e assim, para obter o efeito desejado."
No entanto David Kelly, farmacêutico em Treated.com, mantem a posição de que a perceção dos pacientes desempenha também um papel enorme nesta situação.
"Muitas das diferenças que os pacientes sentem entre medicamentos de marca e genéricos podem ser atribuídas a perceções individuais dos pacientes, crenças e experiências com o sistema de cuidados em saúde." conta-nos.
"A experiência vivida pelo paciente resultante da consulta na qual um determinado medicamento foi prescrito pode influenciar a crença acerca da eficácia do medicamento. Um medicamento será mais facilmente aceito pelo paciente se a consulta for positiva como por exemplo, ao ter um problema reconhecido e no qual foi dado atenção ou também quando o paciente sente que esteve envolvido no processo de tomada de decisão. Subsequente alteração entre marcas e diferentes fabricantes de genéricos pode então causar sentimentos de incerteza para o paciente."
Este é um cenário que esta análise não explorou especificamente: o fator diferença quando se troca de tratamento.
Mas uma tendência que podemos ter notado em tal estudo, acrescenta Pauline, é o inverso do que foi descrito; onde alguém teve possivelmente uma experiência mais positiva com um genérico do que com um de marca.
"Com outros medicamentos para além dos considerados neste artigo também recebemos mensagens positivas de pessoas que mudaram de um medicamento de marca para um genérico; ou é mais eficaz ou tem menos efeitos colaterais. Logo, pode pender para os dois lados."
Mas para investigar isto totalmente, o Dr Osborne diz que, teria que ser realizado um estudo mais exaustivo num ambiente diferente.
"Eu ainda mantenho que um número elevado de pacientes tem a ideia pré-definida que os medicamentos de marca funcionam melhor do que os genéricos, o que introduz um grau de prejuízo em qualquer comparação contendo conhecimento antecipado dos medicamentos usados."
"De forma a ser uma verdadeira análise das diferenças funcionais entre os medicamentos, tal comparação teria que ser realizada sob a forma de um ensaio clínico aleatório duplo cego e envolver mais participantes."